Dando sequência ao estudo do livro. Hoje trazemos para vocês o capítulo 2.
Trecho do livro.
“Divulgar a ciência — tentar tornar os seus métodos e descobertas acessíveis aos que não são cientistas — é o passo que se segue natural e imediatamente. Não explicar a ciência me parece perverso. Quando alguém está apaixonado, quer contar a todo o mundo. Este livro é um testemunho pessoal de meu caso de amor com a ciência, que já dura toda uma vida. Mas há outra razão. A ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é um modo de pensar. Tenho um pressentimento sobre a América do Norte dos tempos de meus filhos ou de meus netos — quando os Estados Unidos serão uma economia de serviços e informações; quando quase todas as principais indústrias manufatureiras terão fugido para outros países; quando tremendos poderes tecnológicos estarão nas mãos de uns poucos, e nenhum representante do interesse público poderá sequer compreender de que se trata; quando as pessoas terão perdido a capacidade de estabelecer seus próprios compromissos ou questionar compreensivelmente os das autoridades; quando, agarrando os cristais e consultando nervosamente os horóscopos, com as nossas faculdades críticas em decadência, incapazes de distinguir entre o que nos dá prazer e o que é verdade, voltaremos a escorregar, quase sem notar, para a superstição e a escuridão. O emburrecimento da América do Norte é muito evidente no lento declínio do conteúdo substantivo nos tão influentes meios de comunicação, nos trinta segundos de informações que fazem furor (que agora já são dez segundos ou menos), na programação de padrão nivelado por baixo, na apresentação crédula da pseudociência e da superstição, mas especialmente numa espécie de celebração da ignorância. No momento em que escrevo, o vídeo mais alugado na América do Norte é o filme Dumb and Dumber [Débi e Lóide]. Beavis and Butthead continuam populares (e influentes) entre os jovens que veem televisão. A lição clara é que estudar e aprender — e não se trata apenas de ciência, mas de tudo o mais — é evitável, até indesejável. Nós criamos uma civilização global em que os elementos mais cruciais — o transporte, as comunicações e todas as outras indústrias, a agricultura, a medicina, a educação, o entretenimento, a proteção ao meio ambiente e até a importante instituição democrática do voto — dependem profundamente da ciência e da tecnologia. Também criamos uma ordem em que quase ninguém compreende a ciência e a tecnologia. É uma receita para o desastre. Podemos escapar ilesos por algum tempo, porém mais cedo ou mais tarde essa mistura inflamável de ignorância e poder vai explodir na nossa cara.”
Comentário:
Nos dias de hoje, o conhecimento, apesar de estar disponível. Se tornou difícil, até mesmo evitável. O acesso é limitado. Pois não foi ensinado as pessoas o gosto pelo saber. Não ensinaram as pessoas pensarem criticamente, cientificamente. Mostrando a razão, as motivações por trás de cada ato.
O emburrecimento, não é perigo somente para o indivíduo, mas para toda coletividade. Por exemplo: Uma pessoa que passa uma informação errada, nos ouvidos de uma pessoa ignorante, essa informação prospera, seja ela mentira, fofoca, ou simplesmente erro. Quando a mesma informação chega a uma pessoa com senso crítico desenvolvido, imediatamente a pessoa faz questionamentos sobre aquela informação. Pois quem tem certeza de tudo com certeza sabe nada. Questionar é um dos passos mais importantes para aprender e desenvolver conhecimento sólido, crível. Enquanto que o oposto, gera uma massa de ignorância, injustiça, julgamentos inferiores. Basta olhar nossa sociedade e ver o quão está despreparada.
Sintomas claros são: educação nível países africanos, segurança mais que duvidosa, saúde aos frangalhos. Ou seja, hoje vivemos em uma sociedade devastada pela ignorância e limitação.
Trecho do livro:
“A ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que temos.”
Comentário:
A ciência bem como a filosofia, fazem o bom uso de advérbios interrogativos. O que livra seus usuários de imensos problemas. Evita pelo menos a maioria deles. A verdade é que as pessoas temem o fim de suas ilusões. Enquanto, o ideal seria perseguir e destruir uma a uma. A ilusão, a mentira, funciona como uma droga. Limita a visão de quem as utiliza.
Trecho do livro:
O modo científico de pensar é ao mesmo tempo imaginativo e disciplinado. Isso é fundamental para o seu sucesso. A ciência nos convida a acolher os fatos, mesmo quando eles não se ajustam às nossas preconcepções. Aconselha-nos a guardar hipóteses alternativas em nossas mentes, para ver qual se adapta melhor à realidade. Impõe-nos um equilíbrio delicado entre uma abertura sem barreiras para ideias novas, por mais heréticas que sejam, e o exame cético mais rigoroso de tudo — das novas ideias e do conhecimento estabelecido. Esse tipo de pensamento é também uma ferramenta essencial para a democracia numa era de mudanças. Uma das razões para o seu sucesso é que a ciência tem um mecanismo de correção de erros embutido em seu próprio âmago. Alguns talvez considerem essa caracterização demasiado ampla, mas para mim, toda vez que fazemos autocrítica, toda vez que testamos nossas ideias no mundo exterior, estamos fazendo ciência. Quando somos indulgentes conosco mesmos e pouco críticos, quando confundimos esperanças e fatos, escorregamos para a pseudociência e a superstição.
Comentário:
Os experimentos, a crítica, são elementos da ciência. E isso faz com que seja possível apurar conhecimento. Separar fatos, realidade, de superstição e pseudociência. Não se enganem, há pessoas que condenam outras baseadas nessas coisas. Nós humanos, temos que ter no mínimo, a sensatez, a justiça de sempre usarmos a mente. Sempre sermos justos em busca de fatos. A ilusão só nos afasta da realidade nos colocando em péssimos lençóis logo à frente. Pois tudo há consequência. Especialmente no mundo de hoje. Independente do setor da vida que façamos parte, é impreterível que no mínimo passemos tudo ao crivo da razão, do bom senso. É complicado? É., porém, através disso se constrói uma sociedade menos ignorante e manipulável.
Trecho do livro:
Os seres humanos podem ansiar pela certeza absoluta; podem aspirar a alcançá-la; podem fingir, como fazem os partidários de certas religiões, que a atingiram. Mas a história da ciência — de longe o mais bem-sucedido conhecimento acessível aos humanos — ensina que o máximo que podemos esperar é um aperfeiçoamento sucessivo de nosso entendimento, um aprendizado por meio de nossos erros, uma abordagem assintótica do Universo, mas com a condição de que a certeza absoluta sempre nos escapará. Estaremos sempre atolados no erro. O máximo que cada geração pode esperar é reduzir um pouco as margens dele e ampliar o corpo de dados a que elas se aplicam. A margem de erro é uma auto avaliação visível e disseminada da confiabilidade de nosso conhecimento.
Comentário:
Essa falta de certeza assombra a maioria das pessoas. Por outro lado, há aqueles que acham isso reconfortante, pois é no mínimo a certeza de auto aprimoramento e aprendizado constante. O quão ruim isso pode ser?
Trecho do livro:
Qual é o segredo do sucesso da ciência? Em parte, é esse mecanismo embutido de correção de erros. Não existem questões proibidas na ciência, assuntos delicados demais para ser examinados, verdades sagradas. Essa abertura para novas ideias, combinada com o mais rigoroso exame cético de todas as ideias, separa o joio do trigo. Não importa o quanto você é inteligente, augusto ou amado. Tem de provar a sua tese em face de uma crítica determinada e especializada. A diversidade e o debate são valorizados. É estimulada a discussão de ideias — substantivamente e em profundidade.
Comentário:
Uma das coisas que mais me atrai na ciência. É a possibilidade de “combate”, treino constante, auto aprimoramento, descobertas. Eu me sinto confortável no espaço das incertezas. Eu acredito, que desde que foram prometidas certezas as pessoas, a primeira coisa a desandar foi o conhecimento. E em seguida o resto, pois nada é mais nocivo para qualquer comunidade que a ignorância.
Trecho do livro:
“A relatividade geral é certamente uma descrição inadequada da Natureza em nível quântico, mas mesmo que não o fosse, mesmo que a relatividade geral fosse válida em toda parte e para sempre, que melhor meio de nos convencer de sua validade do que um esforço combinado para descobrir as suas falhas e limitações? Essa é uma das razões pelas quais as religiões organizadas não me inspiram confiança. Que líderes dos principais credos reconhecem que suas crenças talvez sejam incompletas ou errôneas, e criam institutos para revelar possíveis deficiências doutrinárias? Além do teste da vida cotidiana, quem verifica sistematicamente as circunstâncias em que os ensinamentos religiosos tradicionais talvez já não se apliquem? (É concebível que as doutrinas e a ética que podem ter funcionado muito bem nos tempos patriarcais, patrísticas ou medievais sejam totalmente inválidas no mundo bastante diferente que habitamos hoje.) Que sermões examinam imparcialmente a hipótese de Deus? Que prêmios os céticos religiosos ganham das religiões estabelecidas — ou, nesse aspecto, que recompensas os céticos sociais e econômicos recebem da sociedade em que vivem? A ciência, observa Ann Druyan, está sempre nos sussurrando ao ouvido: “Lembre-se, você é novo nisso. Pode estar equivocado. Já errou antes”. Apesar de todo o discurso da humildade, mostrem-me algo comparável na religião. Acredita-se que as Escrituras sejam de inspiração divina — uma expressão com muitos significados. Mas e se forem simplesmente criadas por seres humanos falíveis? Os milagres são comprovados, mas e se forem, ao contrário, uma mistura de charlatanismo, estados de consciência desconhecidos, percepções errôneas de fenômenos naturais e doença mental? Nenhuma religião contemporânea e nenhum credo da Nova Era me parecem levar realmente em consideração a grandiosidade, a magnificência, a sutileza e a complexidade do Universo revelado pela ciência. O fato de que tão poucas descobertas da ciência moderna estejam prefiguradas nas Escrituras lança, a meu ver, ainda mais dúvida sobre a sua inspiração divina. Mas é claro que posso estar errado.”
Comentário:
Este trecho é um dos meus favoritos, pois traz questionamentos importantes. Em vários ramos da ciência é possível se deparar com correntes, questionamentos. Como exemplo podemos notar a gravidade, a mesma é questionada e colocada em teste o tempo todo. Em determinados setores há pessoas que não suportariam ver suas obras, descobertas sendo questionadas e testadas a exaustão. E isso é um erro. Pois quando nos apegamos a esse tipo de pensamento, o primeiro a si tornar limitado somos nós mesmos.
Trecho do livro:
“Para mim, há quatro razões principais para um esforço combinado que vise a transmitir a ciência — pelo rádio, TV, cinema, jornais, livros, programas de computadores, parques temáticos e salas de aula — a todos os cidadãos. Em todos os empregos da ciência, é insuficiente — na verdade, é perigoso — produzir apenas um grupo pequeno, altamente competente e bem remunerado de profissionais. Ao contrário, uma compreensão fundamental das descobertas e métodos da ciência deve ser divulgada na mais ampla escala.”
Comentário:
Felizmente hoje encontramos vários sites, canais, que por conta própria trazem bom conhecimento.
Trecho do livro:
“Um extraterrestre, recém-chegado à Terra — examinando o que em geral apresentamos às nossas crianças na televisão, no rádio, no cinema, nos jornais, nas revistas, nas histórias em quadrinhos e em muitos livros —, poderia facilmente concluir que fazemos questão de lhes ensinar assassinatos, estupros, crueldades, superstições, credulidade e consumismo. Continuamos a seguir esse padrão e, pelas constantes repetições, muitas das crianças acabam aprendendo essas coisas. Que tipo de sociedade não poderíamos criar se, em vez disso, lhes incutíssemos a ciência e um sentimento de esperança?”
Comentário:
Neste ponto concordo com ele quase na totalidade. Nossa sociedade por interesses claros. Tende a não incentivar bom conhecimento, muito pelo contrário, desde da mais tenra idade há um bombardeio claro, com o fim de doutrinar e limitar o poder crítico, a capacidade de questionar, ver além de informações imprecisas, estúpidas, ou mesmo carregadas de uma maldade desnecessária. O meio, por óbvio é constituído de hábitos. Bem como é inegável que o ser humano responde a estímulos.
Porém a meu ver Sagan, tem uma visão de mundo, onde o mesmo parece desconsiderar a maldade humana. É notório quando o mesmo questiona fronteiras, defesa e etc… Parecendo se esquecer que sim, há pessoas maldosas no mundo. Variando de níveis diferentes. Em um mundo ideal quem sabe ele estaria 100% correto. Porém na realidade, a conversa é outra. Infelizmente é uma luta compartilhar conhecimento. Há todo um interesse financiado ofertando superstição, pseudociência, conteúdo imbecilizante, maldade e etc… O mesmo não negava tais fatos, mas reduzia em muito a periculosidade que o efeito que os mesmos exercem sobre as pessoas. Eu particularmente entendo as razões dele. O período em que viveu, com certeza era irritante conviver com crenças cheias de certezas e influência. Os Estados Unidos da América com certeza pagam um preço amargo por isso até hoje.