Separei trechos de algumas matérias, para que possamos discutir o que está acontecendo sobre a operação que envolve frigoríficos e a polícia federal.
Eduardo Tondo, professor de microbiologia de alimentos do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos da UFRGS, explica que o ácido ascórbico é usado para manter a cor rosada da carne em produtos curados, processados, como salame e presunto….
“O problema do uso de aditivos é que a carne que estava estragada aparenta não estar mais. Aí a pessoa come, e causa surto de intoxicação”, explica.
“Dependendo da dose, o ácido ascórbico pode ser cancerígeno. Carne processada recebe aditivos para conservar e manter a segurança, e não há problema se a dosagem for respeitada. MAS PARA CARNE IN NATURA, NÃO PODE TER NENHUM ADITIVO. O USO EM CARNE IN NATURA É FRAUDE”, acrescentou.
De acordo a matéria A PECCIN UTILIZAVA NOTAS FISCAIS FALSAS DE PRODUTOS COM SIF (Serviço de Inspeção Federal) para a compra de carne estragada. Um laboratório responsável por analisar as amostras de produtos alimentícios também estaria envolvido na fraude.
Fraude em merenda escolar de acordo com os investigadores, o frigorífico Souza Ramos estaria envolvido num esquema de fraude, junto a outras duas empresas, no fornecimento de merenda escolar no Estado do Paraná. Os produtos oferecidos estariam em desacordo com as exigências contratuais, como salsichas contendo carne de frango quando deveriam ser compostas por carne de peru. O caso está já estava sendo investigado e resultou na suspensão da entrega da merenda escolar e na abertura de um processo administrativo.
Carne estragada
Outra empresa que teria vendido carne estragada é o frigorífico Larissa. De acordo com as investigações, a companhia também seria responsável por emitir notas fiscais falsas e transportar produtos fora da temperatura adequada.
Para o delegado Grillo, as irregularidades “causavam revolta”. “Usar cabeça de porco, animal morto de tempos, carne estragada… Tudo para fazer esse tipo de produto, principalmente, salsicha, linguiça”, disse durante entrevista coletiva.
Confira a seguir um diálogo entre o dono do frigorífico, Paulo Rogério Sposito, e um funcionário:
Funcionário: “(…) Nós temos uma carga de barriga, mas aquela uma lá que tem que trocar a etiqueta. Cê lembra?”
Paulo: “Ah, mas e daí? Troca ué”.
Funcionário: “Sim, mas daí eu tenho que trocar ela no final de semana né… que o rapazinho não tá aqui. porque ela tá vencida”.
Paulo: “Então…mas ela tá onde?”
Funcionário: “Eu acho que tá lá no armazém lá de baixo”
Funcionário: “Seu Paulo?”
Paulo: “Oi”.
Funcionário: “Achamos umas paletas 127, que estão vencidas desde fevereiro. Manda embora ou deixa na produção pra eles usar?”
Paulo: “Deixa na produção pra eles usar (…)”
A reportagem tentou, às 10h45, contato com o frigorífico Larissa, de Mauá (SP), mas foi informada que só Paulo Rogério Sposito, dono da empresa, poderia falar. No entanto, ele estava em reunião.
O UOL também ligou para a Peccin Agro Industrial, mas um funcionário da portaria informou que não havia ninguém disponível para prestar esclarecimentos.
Juiz diz que prática é modus operandi
Referindo-se ao grupo criminoso composto por proprietários e representantes de frigoríficos, “incluindo grandes da indústria de alimentos, como Seara e BRF”, o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, 14ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, afirmou que todos eles “têm como modus operandi a prática de irregularidades nas empresas nas quais trabalham”.
“Algumas que foram observadas ao longo do tempo de investigação, com certas variações entre os envolvidos (nem todos cometem todas as irregularidades adiante): reembalagem de produtos vencidos; excesso de água; inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas; assinaturas de certificados para exportação fora da sede da empresa e do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), sem checagem in loco; venda de carne imprópria para o consumo humano; uso de produtos cancerígenos em doses altas para ocultar as características que impediriam o consumo pelo consumidor”, resumiu.
A BRF disse que está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. A companhia reiterou que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas.
A BRF assegurou, também, a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua.
A reportagem tenta contato com os demais citados pela Polícia Federal.
Segundo a polícia, a “Carne Fraca” é, em números, a maior operação já realizada pela PF no país. O delegado federal Maurício Moscardi Grillo afirmou que os partidos PP e PMDB eram beneficiados com propina envolvendo o esquema nos últimos 2 anos.
De acordo com informações da Polícia Federal, a investigação começou porque um fiscal não aceitou ser removido quando descobriu fraudes em uma das empresas investigadas.
Gravações telefônicas obtidas pela Polícia Federal apontam que vários frigoríficos do país vendiam carne vencida tanto no mercado interno, quanto para exportação.
Entre produtos químicos e produtos fora da validade, há casos ainda mais “curiosos”, como a inserção de papelão em lotes de frango e carne de cabeça de porco em linguiça, além de troca de etiquetas de validade.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), órgão vinculado ao Ministério da Justiça, determinou o recall de produtos fabricados por quatro unidades de frigoríficos: duas da Peccin – uma de Jaraguá do Sul (SC) e outra de Curitiba (PR) -, uma da Souza Ramos e outra da Transmeat. Todos os frigoríficos fazem parte dos 21 investigados pela Operação Carne Fraca, da Polícia Federal, que apura um esquema de corrupção envolvendo fiscais e frigoríficos.
Segundo a Senacon, todos os produtos fabricados por essas unidades devem ser recolhidos. “A determinação de recall vale para todos os produtos provenientes dos estabelecimentos”, informa a secretaria.
Isso significa que o consumidor que tiver em casa um produto com um dos SIFs informados tem o direito de exigir a troca ou ressarcimento ao estabelecimento comercial que efetuou a venda.
Sobre o número dos lotes, a Senacon diz que “ainda não se sabe quais são os lotes afetados, já que essa é uma informação de responsabilidade das empresas no momento do início do recall”.
Em carta encaminhada ao Ministério da Justiça, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor pede que o consumidor seja informado sobre descrição das marcas, número dos lotes, locais da apreensão e outros dados que identifiquem as carnes que tenham sido adulteradas.
Na prática
O advogado Flavio Siqueira, do Idec, diz que o consumidor não conseguirá efetuar a troca de produto enquanto as empresas não abrirem o recall. “Não adianta ir agora.”
A Senacon deu um prazo de cinco dias para as empresas abrirem o recall. O consumidor não precisa ter a nota fiscal de aquisição do produto para ser reembolsado.
“O consumidor deve devolver o produto para receber o devido reembolso, independentemente de possuir Nota Fiscal”, diz a secretaria.
Mas o representante da Transmeat e Souza Ramos disse que recorreu da decisão. Ele questiona o fato de o recall envolver todos os produtos. “Precisa informar o número dos lotes.”
Como analisar a qualidade da carne
O Idec recomenda que o consumidor evite a compra de alimentos ultraprocessados.
“A partir da compra de carnes frescas, o consumidor é capaz de identificar se o produto está adequado para o consumo ou não, considerando as seguintes características: coloração avermelhada, textura não pegajosa e lisa, e a ausência de mau-cheiro”, informa o instituto.
http://veja.abril.com.br/economia/carne-fraca-como-saber-se-a-carne-comprada-esta-no-recall/
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) interditou cautelarmente todos os produtos das empresas Transmeat Logística Transportes e Serviços LTDA., Frigorífico Souza Ramos LTDA e Peccin Agro Industrial LTDA, responsáveis por quatro estabelecimentos envolvidos nas investigações da operação Carne Fraca, realizada pela Polícia Federal para investigar possíveis adulterações no processamento das carnes e seus derivados. A resolução, publicada no Diário Oficial da União, impede a comercialização dos produtos e tem caráter preventivo, com duração de 90 dias.
A ação da Anvisa faz parte das iniciativas adotadas pelo governo federal para prevenir qualquer risco aos consumidores. A iniciativa é resultado das comunicações feitas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para a Anvisa, que tratam do recolhimento (recall) de produtos conduzido pelo Ministério em razão de irregularidades que teriam sido encontradas durante a fiscalização, realizada por uma força-tarefa do MAPA, nos 21 estabelecimentos citados na operação.
Após essa fiscalização, o MAPA determinou o recolhimento de todos os lotes dos produtos dos três frigoríficos por intermédio de publicação da Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), a fim de que sejam realizadas análises laboratoriais nesses produtos. A ação da Anvisa impede a comercialização ou preparação dos produtos, por qualquer estabelecimento, dessas empresas até o resultado das análises.
A Transmeat Logística Transportes e Serviços LTDA teve todos os produtos da unidade SIF 4644 – Balsa Nova/PRm interditados. No Frigorífico Souza Ramos LTDA, foram interditados os produtos da unidade SIF 4040 – Colombo/PR e da emrpesa Peccin Agro Industrial LTDA, foram interditados todos os produtos provenientes das unidades SIF 2155 – Curitiba/PR e SIF 825, em Jaraguá do Sul/SC.
Posicionamento
Por telefone, um representante do Frigorífico Sousa Ramos falou ao site de VEJA: “A empresa está sob uma suspensão de dez dias do recall, determinado pelo Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon). Tendo em vista que a medida da Anvisa foi pautada da decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), esperamos que a agência também suspenda as interdições“.
O site de VEJA tentou contato com representantes das empresas Transmeat Logística Transportes e Serviços LTDA. e Peccin Agro Industrial LTDA, mas não obteve resposta até a tarde desta quarta-feira.
http://veja.abril.com.br/saude/anvisa-interdita-carne-alvo-de-recall/